Mudança no Estilo de VIDA para Pré-Hipertensos (Atualização 2025)
- Dr. Salomão Barauna Alcolumbre

- há 1 dia
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A Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial 2025, publicada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH), trouxe importantes atualizações no manejo da pressão arterial no Brasil. Entre as principais mudanças, destaca-se o papel central das modificações no estilo de vida como primeira linha de intervenção, especialmente para pessoas classificadas na nova categoria de pré-hipertensão (pressão arterial entre 120-139/80-89 mmHg).

Por que as mudanças no estilo de vida são tão importantes?
A nova diretriz representa uma mudança de paradigma: em vez de aguardar que a pressão atinja níveis mais elevados para iniciar intervenções, o documento preconiza uma abordagem preventiva e proativa. O objetivo é identificar precocemente indivíduos em risco e antecipar intervenções preventivas e não medicamentosas para prevenir a progressão para hipertensão arterial.
Para pacientes com pressão arterial a partir de 120/80 mmHg, as medidas não medicamentosas já devem ser implementadas, independentemente do uso ou não de medicamentos. Essas modificações não apenas ajudam a controlar a pressão arterial, mas também reduzem o risco de complicações cardiovasculares como infarto, AVC e doença renal.
As principais mudanças no estilo de vida recomendadas
1. Redução do consumo de sal (sódio)
A diretriz brasileira estabelece metas claras para a ingestão de sódio: recomenda-se reduzir a ingestão de sódio para menos de 2.000 mg/dia (cerca de 5 g de sal) para a população geral, e idealmente menos de 1.500 mg/dia.
Como colocar em prática:
Evite alimentos processados e industrializados, que são ricos em sódio
Não leve o saleiro à mesa
Leia os rótulos dos alimentos e escolha opções com menor teor de sódio
Use ervas e especiarias para temperar os alimentos no lugar do sal
Prefira alimentos frescos e preparados em casa
2. Aumento do consumo de potássio
O potássio ajuda a contrabalançar os efeitos do sódio no organismo. A diretriz recomenda aumentar o consumo de alimentos ricos em potássio, como frutas, vegetais e legumes.
Principais fontes de potássio:
Banana, laranja, melão e abacate
Batata, batata-doce e mandioca
Folhas verdes escuras (couve, espinafre)
Feijões e lentilhas
Tomate e suco de tomate natural
3. Adoção de um padrão alimentar saudável - Dieta DASH
A diretriz recomenda a adoção da dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension), que tem comprovada eficácia na redução da pressão arterial.
Princípios da dieta DASH:
Rica em frutas, vegetais e laticínios com baixo teor de gordura
Inclui grãos integrais, aves, peixes e oleaginosas
Reduz carne vermelha, doces e bebidas açucaradas
Limita gorduras saturadas e colesterol
4. Perda de peso e controle da obesidade
O excesso de peso está diretamente relacionado ao aumento da pressão arterial. A redução de peso, mesmo que modesta, pode trazer benefícios significativos no controle pressórico.
Metas recomendadas:
Manter o Índice de Massa Corporal (IMC) entre 18,5 e 24,9 kg/m²
Reduzir a circunferência abdominal (homens < 102 cm; mulheres < 88 cm)
Perder 5-10% do peso corporal já pode resultar em redução significativa da pressão arterial
5. Atividade física regular
A prática de exercícios físicos é fundamental no tratamento da hipertensão. A diretriz recomenda atividade física moderada de forma regular.
Recomendações:
Pelo menos 150 minutos de atividade física aeróbica moderada por semana
Ou 75 minutos de atividade física vigorosa por semana
Exercícios de resistência (musculação) podem ser complementares aos aeróbicos
Atividades como caminhada, corrida, natação, ciclismo e dança são excelentes opções
O importante é começar devagar e aumentar progressivamente a intensidade
6. Redução ou cessação do consumo de álcool
O consumo excessivo de álcool está associado ao aumento da pressão arterial. A diretriz recomenda moderação ou, idealmente, a eliminação do consumo de bebidas alcoólicas.
Limites recomendados (quando não for possível cessar completamente):
Homens: até 2 doses por dia
Mulheres: até 1 dose por dia
(1 dose = 350 ml de cerveja, 150 ml de vinho ou 45 ml de destilado)
7. Cessação do tabagismo
Embora o tabagismo não cause hipertensão crônica diretamente, ele é um importante fator de risco cardiovascular que potencializa os danos da pressão alta. A diretriz enfatiza a importância de parar de fumar completamente.
Benefícios:
Redução imediata do risco cardiovascular
Melhora da função endotelial (dos vasos sanguíneos)
Diminuição do risco de infarto e AVC
Melhora da resposta aos medicamentos anti-hipertensivos
8. Controle do estresse e sono adequado
O estresse crônico e a má qualidade do sono podem contribuir para a elevação da pressão arterial. A diretriz reconhece a importância de abordar aspectos psicoemocionais no tratamento.
Estratégias recomendadas:
Técnicas de respiração lenta e profunda
Meditação e mindfulness
Yoga e tai chi chuan
Sono de qualidade (7-8 horas por noite)
Gerenciamento adequado do estresse no dia a dia
Buscar apoio psicológico quando necessário
Quando as mudanças no estilo de vida são suficientes?
Segundo a nova diretriz, pacientes com pressão arterial entre 120-139/80-89 mmHg devem ser classificados como pré-hipertensos e orientados quanto a mudanças no estilo de vida. Para esses pacientes de baixo risco cardiovascular, as medidas não medicamentosas podem ser suficientes para controlar a pressão.
No entanto, pacientes com 130-139/80-89 mmHg e alto risco cardiovascular iniciam medidas não medicamentosas por 3 meses, podendo evoluir para farmacoterapia se não houver controle. O alto risco cardiovascular inclui condições como diabetes, doença renal crônica ou escores de risco elevados.
A importância da abordagem multidisciplinar
A nova diretriz destaca pela primeira vez a importância da equipe multiprofissional no cuidado às pessoas com hipertensão, especialmente na Atenção Primária à Saúde do SUS. O sucesso das mudanças no estilo de vida depende de:
Médicos: avaliar, orientar e acompanhar o paciente
Nutricionistas: elaborar planos alimentares individualizados
Educadores físicos: prescrever e supervisionar exercícios
Enfermeiros: monitorar a pressão arterial e reforçar orientações
Psicólogos: auxiliar no manejo do estresse e na adesão ao tratamento
Agentes comunitários de saúde: fazer busca ativa e acompanhamento na comunidade
Mensagem final
As mudanças no estilo de vida não são apenas coadjuvantes no tratamento da hipertensão - elas são a base fundamental para o controle adequado da pressão arterial e a prevenção de complicações cardiovasculares. A Diretriz Brasileira de Hipertensão 2025 reforça que a partir de 120/80 mmHg, o foco passa a ser mudança de estilo de vida.
Adotar hábitos saudáveis pode parecer desafiador inicialmente, mas os benefícios são imensos: redução da pressão arterial, menor necessidade de medicamentos, melhor qualidade de vida e diminuição significativa do risco de infarto, AVC e outras complicações.
Lembre-se: cada pequena mudança conta. Não é necessário fazer tudo de uma vez - comece com uma ou duas modificações e vá incorporando outras gradualmente. O importante é dar o primeiro passo rumo a uma vida mais saudável.
Se você tem pressão arterial a partir de 120/80 mmHg, converse com seu médico ou procure uma Unidade Básica de Saúde para receber orientações personalizadas sobre como implementar essas mudanças no seu dia a dia.
Referências: Brandão AA, Rodrigues CIS, Bortolotto LA, et al. Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial – 2025. Arq Bras Cardiol. 2025;122(9):e20250624.
Este artigo tem caráter informativo e não substitui a consulta médica. Sempre procure orientação profissional para avaliação e tratamento individualizados.




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